''Organizações alertam para cruel realidade das granjas e pedem melhores condições para animais''
“Garantir padrões mínimos de bem-estar animal no setor produtivo tem se tornado prioridade em todo o mundo”, diz carta aberta à sociedade brasileira
As organizações Animal Equality, Fórum Nacional de Proteção e Defesa Animal, Mercy for Animals, Sinergia Animal e World Animal Protection se uniram para escrever uma carta aberta à sociedade brasileira pedindo melhores condições para os animais envolvidos na produção de ovos e derivados.
De acordo com a Fórum Animal, no Brasil, cerca de 150 milhões de galinhas são criadas para a produção de ovos e mais de 90% delas passam a vida confinadas em gaiolas em péssimas condições.
Ainda assim, foi submetida à Consulta Pública uma proposta de Instrução Normativa que estabelece requisitos mínimos relativos às dependências e aos equipamentos para a instalação e funcionamento de granjas avícolas, porém que não menciona, em nenhum momento do texto, os animais que são explorados nesses locais. Esse fato revoltou as organizações.
A realidade cruel das granjas
Os animais ficam amontoados em gaiolas tão pequenas que não conseguem bater asas ou empoleirar-se, comportamento simples desses animais. E como as gaiolas ficam empilhadas, as galinhas são obrigadas a excretar umas nas outras.
Tudo isso contribui para um quadro crônico de estresse e doenças. Nessas condições, muitos animais acabam morrendo, e as aves que conseguem sobreviver são forçadas a continuar entre os restos das que morreram, muitas vezes em decomposição.
É uma realidade cruel, que causa sofrimento aos animais e reflete diretamente no alimento que é comercializado e colocado no prato. Por esse motivo, especialistas já alertaram que as granjas são uma bomba-relógio para próximas pandemias.
Mudanças que precisam ser feitas
As organizações de defesa dos animais lutam para que as empresas que mais vendem e utilizam ovos no Brasil se comprometam com a política livre de gaiolas.
“Garantir padrões mínimos de bem-estar animal no setor produtivo tem se tornado uma prioridade em todo o mundo, visto a necessidade da adoção de medidas que priorizem uma vida mais digna aos animais. Políticas, legislações, manejos e metodologias que se comprovam extremamente eficientes têm sido criadas, necessárias e benéficas nos meios produtivos tanto em âmbito nacional quanto internacional”, diz a carta, que pode ser conferida na íntegra no final do texto.
A criação intensiva em gaiolas têm perdido espaço no mercado, principalmente depois que países e empresas multinacionais se posicionaram a favor de um modelo que respeite critérios básicos do bem-estar dos animais e a qualidade do produto.
Países como Nova Zelândia, participantes da União Europeia e vários estados dos EUA já proibiram o método de criação convencional com o uso de gaiolas. A medida também já é uma tendência na América Latina, com um aumento expressivo na demanda por ovos provenientes de sistemas livres de gaiolas.
Empresas do ramo alimentício se comprometeram publicamente a deixar de comercializar ovos provenientes de galinhas criadas em gaiolas, incluindo os grupos varejistas GPA, Carrefour e Grupo BIG.
Além disso, as certificações de bem-estar animal para galinhas poedeiras também vêm crescendo consideravelmente nos últimos anos.
Fim das gaiolas, fim do sofrimento?
Sistemas livres de gaiolas bem administrados têm grande potencial de diminuir o sofrimento dos animais, já que a eliminação das gaiolas permite que as aves se movam, socializem umas com as outras e realizem comportamentos naturais que são essenciais para o bem-estar delas.
Por outro lado, em sistemas sem gaiolas os pintinhos machos também são triturados vivos com poucas horas de vida porque não botam ovos, assim como galinhas são mandadas ao abate quando a produção de ovos é reduzida.
Outro problema é que em sistemas livres de gaiolas mal administrados os animais ficam estressados e começam a se bicar. Isso resulta em surtos de arranque de penas, lesões, ataques e até morte de algumas aves.
Sendo assim, a população é incentivada a dizer não ao consumo de ovos provenientes de galinhas criadas em gaiolas e a reduzir e até eliminar o consumo de produtos de origem animal.
Carta Aberta à Sociedade Brasileira
“O Fórum Nacional de Proteção e Defesa Animal, em conjunto com Animal Equality, Mercy for Animals, Sinergia Animal e World Animal Protection, vêm respeitosamente solicitar a inclusão de um capítulo sobre os animais envolvidos na produção de ovos na minuta da Instrução Normativa de requisitos mínimos relativos às dependências e aos equipamentos para a instalação e funcionamento de granjas avícolas e de unidades de beneficiamento de ovos e derivados - Portaria Nº 202 (26/01/2021).
É de suma importância que requisitos mínimos relativos às rotinas e práticas de manejo sejam também estabelecidos, visando a segurança das aves, a possibilidade das aves manifestarem comportamentos naturais da espécie, diminuição do estresse e cuidadosa manipulação evitando abusos e maus-tratos que são crimes previstos em lei federal. Afinal, o bem-estar dos animais confinados é fortemente dependente das concepções das instalações e dos equipamentos utilizados, os quais possuem efeito direto na saúde e desempenho dos animais. A produção de ovos lida com vidas de animais não humanos que possuem necessidades físicas e emocionais que precisam ser atendidas, exigidas e reconhecidas pelos criadores e produtores.
Garantir padrões mínimos de bem-estar animal no setor produtivo tem se tornado uma prioridade em todo o mundo, visto a necessidade da adoção de medidas que priorizem uma vida mais digna aos animais. Políticas, legislações, manejos e metodologias que se comprovam extremamente eficientes têm sido criadas, necessárias e benéficas nos meios produtivos tanto em âmbito nacional quanto internacional.
Diante do exposto, é de suma importância abordar o tema bem-estar animal neste documento, uma vez que a qualidade de vida dos animais não pode retroceder e a legislação deve acolhê-los e reconhecer o poder de coerência que esta ciência possui com a nossa atual realidade ambiental, social e do agronegócio.
Comments