''Espetáculo ''TIP'' (antes que me queimem eu mesma atiro no fogo) estreia amanhã no Teatro Sesi no Rio de Janeiro''
- Renata Porto
- há 29 minutos
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Rodrigo Portella, diretor de “Tom na Fazenda” e “Ficções”, dirige “TIP (antes que me queimem eu mesma me atiro no fogo)” com dramaturgia e performance de Milla Fernandez.
A peça é um corajoso relato de autoficção que partiu da experiência da atriz durante a pandemia. Diante das necessidades urgentes de se prover, e da falta de perspectivas, Milla encontrou no sexo virtual, com o apoio do marido e da família, a possibilidade de garantir uma fonte de renda imediata. Sem ideia do que encontraria, mergulhou no mundo do entretenimento adulto, satisfazendo como camgirl desejos de clientes anônimos em troca de gorjetas (TIPs, em inglês).
Com humor ácido, Milla Fernandez não se poupa e brinca com o medo do fracasso, revelando situações cômicas, constrangedoras e dolorosas que viveu na área do entretenimento e no universo pornô.

Foto: Ale Catan
TIP – gorjeta, em inglês - compõe o nome escolhido para o corajoso relato de autoficção da atriz Milla Fernandez que, com direção de Rodrigo Portella e direção musical de Federico Puppi, leva à cena uma experiência vivida durante a pandemia de 2020/21. As necessidades batiam à porta e os horizontes eram inexistentes. Então, com apoio do marido e dos pais, Milla buscou no sexo virtual a garantia de uma fonte de renda imediata. Sem nenhum conhecimento prévio daquele universo, e sem ideia do que encontraria, mergulhou no mundo do entretenimento adulto, satisfazendo como camgirl desejos de clientes anônimos em troca de gorjetas (TIPs, em inglês).
A vivência provocou na atriz uma reflexão sobre as ilusões de uma sociedade orientada pela imagem. Com humor ácido, Milla Fernandez não se poupa e brinca com o medo do fracasso. A partir das inúmeras situações cômicas, constrangedoras e dolorosas que viveu na área do entretenimento, ela destrincha, com ironia, as consequências de uma vida construída para realizar o desejo dos outros - seja na profissão, no âmbito familiar ou no universo pornô. O que acontece quando uma atriz vive sempre em função da plateia? E ainda, o que acontece quando essa mulher se cansa de tentar agradar?
Nas palavras de Milla Fernandez: “Na pandemia, sem ganhar um centavo como atriz, eu decidi molhar os pés no universo das camgirls. Acabei mergulhando de cabeça, me afogando num mar violento e só quando cheguei no fundo e pensei que ia morrer, descobri que dá pra respirar embaixo d’água. Durante anos meu objetivo foi me sentir segura. Hoje eu quero me sentir cada vez mais confortável na insegurança. Eu pensava que controlar tudo era sinônimo de força. Vivi uma vida inteira tentando estar preparada para quando o mundo caísse. Aí ele caiu e esmagou todas as verdades que eu tinha construído. Essa peça não é uma resposta, é uma pergunta que eu me faço todos os dias.”
Como diretor, Rodrigo Portella direciona seu foco para a visão da atriz sobre a própria experiência: “Eu fico abismado com a coragem dela. Eu jamais me exporia dessa forma. Apesar de que nem tudo corresponde à verdade (no que diz respeito aos fatos), essa é uma das peças mais “de verdade” em que eu já estive envolvido. Essa peça, pra mim, é sobre uma jovem atriz que se atira no abismo, uma mulher que se lança no fogo ao invés de fugir ou paralisar. Não é só um ato de coragem, mas de resiliência e reparação. Uma espécie de revisão do seu processo de constituição como pessoa e artista.”
A MONTAGEM
A peça está sendo ensaiada em Barcelona - onde vivem Rodrigo e Milla -, com apoio da Prefeitura da cidade. A encenação de Rodrigo Portella aposta no minimalismo. Como único elemento cenográfico, longos tapetes vermelhos representam a fama e o sucesso. Portella assume a própria arquitetura teatral como cenário, retirando os tradicionais panos pretos da caixa cênica, e assim lembrando aos espectadores que estão num teatro, e que a ilusão dará lugar à imaginação. A trilha de Federico Puppi e Leo Bandeira tem caráter essencialmente percussivo, complementado por Milla Fernandez, que toca sax durante o espetáculo. O figurino de Karen Brusttolin busca desviar dos clichês e dos fetiches.
FICHA TÉCNICA
Dramaturgia e Performance: Milla Fernandez
Direção: Rodrigo Portella
Direção Musical: Federico Puppi
Trilha Sonora Original: Leonardo Bandeira (bateria) e Federico Puppi
Figurino: Karen Brusttolin
Cenário e Luz: Rodrigo Portella
Colaboração: Georgina Vila Bruch
Fotos: Ale Catan
Mídias Sociais e Gestão de Tráfego: Nathália Alves
Identidade visual: José Mancini e Diego Navarro
Visagismo: Neandro Ferreira
Captação de Apoio: RumoToloá
Produção: Ártemis e Virgínia Bravo (Ártemis Produções Artísticas)
Realização: Mil Atividades Artísticas
Assessoria de Imprensa: JSPontes Comunicação - João Pontes e Stella Stephany

Foto: Ale Catan
RODRIGO PORTELLA - direção
Diretor e dramaturgo com 33 anos de carreira, Rodrigo Portella é hoje um dos diretores mais reconhecidos da cena teatral brasileira. Seus principais espetáculos, “Tom na Fazenda” (2017), “As Crianças” (2019) e “Ficções” (2022), foram vencedores dos mais importantes prêmios do teatro brasileiro, como Shell, APTR, APCA, Bibi Ferreira, Cesgranrio, na categoria Melhor Diretor. “Tom na Fazenda” obteve grande sucesso de público e crítica no Festival de Avignon em 2022, além de uma longa temporada no Theatre Paris-Villete, na capital francesa, em 2023 (destaque do Jornal Le Monde), rendendo à peça uma turnê por mais de 30 cidades na Europa, além de curta temporada no Theatre Usine C em Montreal em 2020, quando foi laureado com o Prêmio de Melhor Espetáculo Estrangeiro pela Associação de Críticos daquele país, na ocasião do Festival TransAmérique 2018. Em 2025, Portella estreou uma adaptação do romance “Ensaio Sobre a Cegueira”, de José Saramago, com o Grupo Galpão, e o musical “Ray – Você Não Me Conhece”, vencedor do Prêmio APCA 2025 de Melhor Direção.
Rodrigo é bacharel e mestre em Artes Cênicas pela UniRio e suas obras seguem ocupando importantes espaços culturais no Brasil e no exterior. Nos últimos anos, suas peças percorreram cidades na Argentina, Equador, Chile, França, Alemanha, Suíça, Bélgica, Portugal, Reino Unido e Canadá. Atualmente, Portella vive em Barcelona e é professor do curso superior do Instituto Cal de Arte e Cultura.

Foto: Ale Catan
MILLA FERNANDEZ – dramaturgia e performance
Milla Fernandez, atriz de nacionalidade hispano-brasileira, tem formação técnica na Escola de Atores Wolf Maya em Teatro, TV e Cinema, e graduação em Interpretação Teatral pela CAL no Rio de Janeiro, concluída em 2019. Estreou no papel de protagonista do filme “Christabel”, pelo qual recebeu a indicação de Melhor Atriz no Festival de Cinema de Pernambuco em 2018. Ainda no mesmo ano, foi selecionada pela TV Globo para participar do projeto “Trupe Cena”, com o espetáculo “Agreste”, de Newton Moreno, dirigido por Duda Maia. Em 2021, filmou “Alice Mandou um Beijo”, do diretor brasileiro Rodrigo Portella, além de colaborar com a dramaturgia dos espetáculos “Ficções” e “Ray – Você Não Me Conhece”, ambos escritos e dirigidos por Portella. Atualmente, entre Barcelona e Rio de Janeiro, Milla se dedica aos estudos musicais e de dança contemporânea, enquanto trabalha como diretora artística de um novo espetáculo.
FEDERICO PUPPI – direção musical
Federico Puppi, violoncelista italiano, é formado no Conservatório de Aosta (Itália). Em 2006, recebeu uma bolsa de estudos para o Berklee College of Music no Umbria Jazz Festival. É coprodutor do disco “Guelã”, de Maria Gadú, indicado ao Grammy Latino em 2016.
Em 2015 lançou seu primeiro álbum, “O Canto da Madeira” - Prêmio Catavento 2016 de melhor disco instrumental do ano. Em 2018, lançou o disco “Marinheiro de Terra Firme”, com participação de Milton Nascimento e, em 2022, o álbum “Crisalide”.
Criou o projeto YAMÍ com Marco Lobo, com turnês no Brasil e na Europa. No teatro, compôs as trilhas das peças “As Crianças'', direção de Rodrigo Portella; “Enquanto Você Voava eu Criava Raízes”, da cie. Dos a Deux; “Mutações”, direção de André Guerreiro Lopes; “Em nome da Mãe”, direção de Miwa Yanagizawa; “Ficções”, direção de Rodrigo Portella, entre outros. Ganhou duas vezes o Prêmio APTR de melhor trilha sonora original e o Prêmio Cenym para efeito sonoros e trilha fragmentada. Em 2024, ganhou o Latin Grammy pelo álbum “Mariana e Mestrinho” na categoria melhor álbum de musica brasileira de raiz.
No cinema, compôs a trilha dos filmes “Delicadeza é Azul”, direção de Yasmin Garcez; e “Iaiá de Ioiô”, direção de Paula Braun. Colaborou como violoncelista com as trilhas das novelas “Éramos Seis", "O 7° Guardião”, “Nos Tempos do Imperador", “No Rancho Fundo”, “Pantanal”, “Mar do Sertão”, “Garota do Momento”, entre outras da Rede Globo. Colaborou com a criação da trilha sonora original do longa-metragem “O Auto da Comparecida 2”.






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