''Centro Cultural Banco do Brasil em São Paulo expõe a mostra “A tensão” de Leandro Erlich''
Depois de estrondoso sucesso nos CCBBs de Belo Horizonte e Rio de Janeiro, chegou a vez de São Paulo conferir a mostra do artista argentino, a partir de 13/04;
Leandro Erlich é conhecido mundialmente por criações baseadas em “lugares-comuns”, mas representadas de maneira a subverter sua condição de “normalidade”;
Uma das obras mais emblemáticas do artista, “A Piscina”, ficará instalada no térreo do CCBB São Paulo, prédio histórico da capital paulista
A Piscina de Erlich, no CCBB Belo Horizonte (esquerda) e no CCBB Rio de Janeiro (direita) | fotos: Agência Galo/divulgação
Vai parecer que o CCBB foi reformado, mas é uma exposição. Até 20 de Junho, um conjunto de 16 obras vai transformar os espaços do Centro Cultural Banco do Brasil em São Paulo. Barco e elevador flutuantes, janelas para jardins imaginários e até uma piscina em que o visitante pode ficar submerso sem medo de se afogar fazem parte da mostra de um dos nomes mais provocativos e populares da arte contemporânea, o argentino Leandro Erlich.
A exposição que chega em São Paulo, depois de passagens pelo CCBB BH e CCBB RJ, tem um nome bastante explícito, “A tensão” (e sonoramente ambíguo: quem não lê pode ouvir “atenção”), revelador de um dos prováveis sentimentos que os visitantes sentirão diante das instalações do artista. Isso porque Erlich trabalha com referências que são, literalmente, “lugares-comuns”, espaços que estamos acostumados a ver no dia a dia, mas deslocados da condição de normalidade. Como afirma o curador, Marcello Dantas, “a obra de Leandro Erlich é estruturada no mecanismo da dúvida. O que nossos olhos veem está em desacordo com o que nossa mente conhece”, sintetiza.
Leandro Erlich, nascido em 1973 e produzindo suas obras nos seus ateliês em Buenos Aires e Montevidéu, está constantemente rompendo as fronteiras que normalmente acreditamos existir entre a realidade e a ilusão. Em entrevista ao jornal argentino Clarín, o artista explicou seu projeto: “Estou interessado principalmente em transformar elementos que as pessoas acreditam que não podem ser transformados, que não podem ser diferentes. Trata-se de uma utopia de apresentar a possibilidade de transformar o que existe em uma outra coisa, e essa ação nos convida a imaginar a realidade de uma maneira diferente”.
Uma das mais bem sucedidas experiências nesse sentido – que se tornou uma de suas obras mais populares e desconcertantes – é “Swimming Pool” (piscina, em português), que será instalada no piso térreo do CCBB SP. Atração onde quer que seja exposta, a piscina de Erlich provoca sensações absurdas tanto por quem entra nela – sem se molhar – quanto para quem está do lado de fora: uma camada de água entre um lado e outro cria a ilusão de que as pessoas ao fundo estão de fato mergulhadas numa piscina. Outra obra desconcertante e grande destaque entre as instalações de Erlich que estarão presentes na exposição de São Paulo é “Classroom”. Nela, quando o público entra na sala, sua imagem é refletida num vidro, como se ele fizesse parte de uma cena diferente. Os visitantes ficam parecidos com fantasmas, como se estivessem numa sala de aula abandonada – as memórias de infância se projetam para um cenário de crise e de abandono. Em diferentes obras, Erlich recorre à ideia de recorte visual sugerida pelas janelas. Um desses trabalhos se chama, justamente, “Blind Window”. “O que guarda a memória? Nosso cérebro ou nossos olhos?”, perguntou o artista, de forma retórica, durante uma entrevista no Japão. “Gosto da ideia de pensar que o olho, ou o vidro, também são capazes de guardar histórias”. É justamente essa a proposta de Erlich ao fixar paisagens, situações imaginárias e inusitadas, em objetos arquitetônicos ou decorativos, como uma janela ou um falso espelho num elevador.
Erlich participou de algumas grandes exposições no Brasil. Em 1997, integrou o rol de artistas que estiveram na 1ª Bienal do Mercosul e, em 2004, figurou entre os nomes da 26ª Bienal de São Paulo. Em 2001, representou a Argentina na 49ª Bienal de Veneza, onde voltou a estar em 2005. São, também, dezenas as grandes exposições coletivas em que Erlich esteve, assim com são dezenas as exposições individuais de Erlich pelo mundo: New York, Barcelona, Londres, Seul, Paris, Buenos Aires: onde quer que seja exposta, a arte de Leandro Erlich provoca o público. Ao deslocar o conhecimento prévio do espectador daquilo que poderíamos chamar, agora recorrendo a um lugar-comum da linguagem, de “zona de conforto”, Erlich coloca o expectador necessariamente em confronto com o que dizia sua experiência sobre dada situação, exigindo “um engajamento e uma atenção participativa para desvendar cada obra”, explica o curador Marcello Dantas: “cada situação só se materializa com a presença do público, em que a obra abre um espaço de acontecimento. O título da exposição já conclama essa dúvida: pede-se atenção ao mesmo tempo em que carrega em si o mistério provocado pela tensão que existe no espaço vazio antes da participação”, completa.
As ilusões óticas e a subversão da realidade propostas por Erlich fazem dele um artista, simultaneamente, conceitual e tremendamente popular. A exposição “Ver e crer”, no Museu Mori de Tokio, aberta no fim de 2017, atraiu 400 mil espectadores pagantes nos três primeiros meses, superando a bilheteria alcançada pelo japonês Takashi Murakami (315 mil ingressos) e se aproximando do resultado obtido pelo Ai Weiwei (460 mil) no mesmo período. À época, o museu destacou o interesse que a obra do argentino provocava entre os jovens e adolescentes, que representavam cerca de metade dos visitantes. Além de provocar o olhar dessas pessoas em particular, as obras de Erlich convidam à interação nas redes sociais. Por onde passa, o Instagram fica cheio de fotos de pessoas integradas ao espaço expositivo. Quando expôs no Museu de Arte Latino-americana de Buenos Aires (Malba), em 2015, fez “desaparecer” um pedaço de um grande obelisco da capital argentina enquanto uma réplica da ponta do monumento era exibida na porta do museu.
Montar uma exposição de Leandro Erlich não é tarefa simples. Ao trabalhar com peças grandes e instalações que exigem adaptações específicas para os espaços expositivos, e que rompem com a lógica cotidiana da arquitetura e do urbanismo, parte das obras exige uma montagem prévia, feita em galpões no próprio Brasil, antes de serem levadas ao CCBB.
Desse modo, a tensão provocada pelo artista é resultado não apenas de uma percepção aguda das possibilidades visuais de uma dada situação, mas também de uma preocupação com o próprio espaço que abriga as mostras, que se tornam, desse modo, únicas. A percepção da piscina em São Paulo, por exemplo, em num prédio de importância histórica, será bastante diferente da provocada pela instalação no Malba, de Buenos Aires. Justamente por dialogar com o entorno e com as experiências prévias dos visitantes, o trabalho de Leandro Erlich expressa, como poucos, nossa época. Como explica Marcello Dantas, essa é também uma sensação progressiva: “A cada etapa dessa viagem pela exposição, nos damos conta da relação entre expectativa, tensão e atenção que traduzem o espírito de um tempo de incertezas”.
“A exposição propõe um olhar diferente para aquilo que seria cotidiano. Isso tem muita relação com o nosso dia a dia na BB DTVM, onde estamos sempre buscando oportunidades para inovar e trazer o que existe de melhor para o nosso investidor, contribuindo para uma sociedade cada vez mais sustentável”, afirma Isaac Marcovistz, gerente executivo de produtos, comunicação e marketing da BB DTVM, patrocinadora da exposição.
“Trazer um nome de peso internacional como Erlich, reafirma o compromisso do Banco do Brasil em democratizar o acesso à cultura e contribuir com a promoção, divulgação e incentivo à arte”, afirma Cláudio Mattos, gerente geral do CCBB SP.
REGRAS PARA VISITAÇÃO
O CCBB São Paulo permanece aberto todos os dias, das 09h às 19h (exceto às terças)
A entrada do público é permitida apenas com apresentação do comprovante de vacinação contra a COVID-19
Os ingressos podem ser reservados pelo aplicativo ou site Eventim.
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