''Pela primeira vez em São Paulo, musical O Beijo no Asfalto,de Nelson Rodrigues, encerra te
Em sua primeira versão musical desde que foi escrita em 1960, obra clássica de Nelson Rodrigues realiza curta temporada
O Beijo no Asfalto-Thiago_Detofol
Levada ao palco inúmeras vezes desde seu lançamento, O Beijo no Asfalto, de Nelson Rodrigues, ganhou sua mais nova leitura: um espetáculo musical. A montagem, idealizada pelo ator e compositor Claudio Lins e pelo diretor João Fonseca, com direção musical de Délia Fischer, será encenada em São Paulo, de 26 a 30 de setembro, no Teatro do Sesc Vila Mariana. Os ingressos custam R$ 40 (inteira), R$ 20 (meia) e R$ 12 (credenciados do Sesc) e podem ser adquiridos pelo site sescsp.org.br ou nas bilheterias das unidades espalhadas pelo estado de São Paulo.
Incensado com o título de maior dramaturgo brasileiro, Nelson Rodrigues é também considerado um dos pais do teatro moderno, o homem que elevou a arte teatral a uma categoria superior e que revolucionou essa arte, quando seu “Vestido de Noiva” chegou aos palcos. Dono de um olhar profundo sobre a fragilidade da natureza humana, Nelson legou à posteridade uma série de clássicos, dos quais “O Beijo no Asfalto” é, sem dúvida, um dos maiores destaques. Lançado em 1960, o texto foi adaptado dezenas de vezes para o teatro e em três versões cinematográficas.Ao completar 55 anos, ele volta aos palcos em sua primeira versão musical.
A remontagem teve sua primeira temporada em Outubro de 2015 no Teatro SESC Ginástico, no Rio de Janeiro, curiosamente onde o texto foi apresentado pela primeira vez nos palcos, em 1961. Para criar as canções, o ator e compositor Claudio Lins mergulhou durante quatro anos em uma extensa pesquisa sobre a sonoridade musical dos anos 50 e 60, período em que se passa a trama, buscando um resultado que soasse vintage ao lembrar as marchinhas e sambacanções da época, mas sem perder a contemporaneidade harmônica e melódica conquistada pela música brasileira pós-bossa nova. O resultado foi cerca de 20 canções, 15 das quais deverão estar no palco – executadas por uma banda ao vivo, mas eventualmente usando bases pré-gravadas e samplers, que ao mesmo tempo modernizam a sonoridade e lembram o som dos rádios nos anos 60.
"Não foi um trabalho fácil, foi um tanto de inspiração e um muito de transpiração" afirma Claudio, que garante que durante todo esse tempo jogou fora diversas canções que, depois de prontas, não se adequavam ao tema. Cauby Peixoto, Tito Madi, Vicente Celestino (um dos favoritos de Nelson), Orlando Dias, Roberto Silva, Nelson Gonçalves, Anísio Silva, todos eles foram fonte de inspiração. “Especialmente Dolores Duran, cujo universo se encaixa perfeitamente com as personagens de Nelson. A Bossa Nova estava nascendo, mas definitivamente ela não representa as personagens rodrigueanas, que geralmente são suburbanas e simples.”, completa. As novas músicas, aliás, serão intercaladas com trechos de algumas canções de época, cujas sonoridades ou temas são semelhantes, numa espécie de mash up.
A ideia de transformar Nelson em um espetáculo musical surgiu em 2009 durante a temporada de “Gota D’Água”, outro texto emblemático dos palcos brasileiros, que tinha direção de João Fonseca e a presença de Claudio no elenco. “Eu tinha visto a montagem de 'O Casamento', também do Nelson, dirigida pelo João, e comentei com ele que, como ator, tinha o sonho de montar um espetáculo do Nelson. E aí ele sugeriu fazermos um musical. Minha primeira reação foi de dúvida, mas depois de algumas conversas eu já estava levantando a produção”, lembra Claudio.
Um especialista em Nelson Rodrigues, de quem já montou quatro espetáculos e que considera seu autor favorito, João Fonseca afirma que essa montagem do "Beijo" traz uma nova luz, uma cara nova ao texto. “O Beijo é muito marcante, já foi muito visto, por isso precisa de um diferencial. É um clássico, mas agora vamos contar a história de uma outra forma, subverter. E isso não é estranho, porque o Nelson tem uma musicalidade muito marcante, que é específica dele. Vamos pegar um texto que já é muito bom, que é redondo, e acrescentar, criar uma nova versão. Acho muito bom fazer algo assim bem pessoal, marcante. O Nelson é exagerado mas é também engraçado, não deve ser feito como uma novela das 8”.
Produzida por Claudio Lins e Ana Beatriz Figueras, a turnê de “O Beijo no Asfalto – O Musical” tem no elenco Claudio Lins no papel de Arandir, Thainá Gallo como Selminha, Luca de Castro, como Aprígio, Juliana Marins, como Dália, Claudio Tovar no papel do Delegado Cunha e RubenGabira interpretando o jornalista Amado Ribeiro. Completam o elenco Jorge Maya, Janaina Azevedo, Ricardo Souzedo, Gabriel Stauffer, Pablo Áscoli, Beth Lamas, Philipe Carneiro, Marcéu Pierrotti e Marina Mota. Na ficha técnica, além de João Fonseca e Délia Fischer, estão Nello Marrese que assina os cenários; Luiz Paulo Nenén, a Iluminação; Claudio Tovar, os figurinos; e Sueli Guerra na Direção de Movimento.
O Beijo – Sinopse
Praça da Bandeira, Rio de Janeiro, uma tarde no início da década de 60. Um homem na calçada perde o equilíbrio e cai na frente de uma lotação, que o atira longe. A primeira pessoa a socorrê-lo é Arandir. Ao se debruçar sobre o moribundo, este pede um último desejo: um beijo. Arandir o beija. E logo depois o rapaz morre. O episódio é presenciado por Aprígio, sogro de Arandir e pelo jornalista Amado Ribeiro. O astuto repórter policial do jornal Última Hora vislumbra no acontecimento a possibilidade de estampar na primeira página do dia seguinte uma história de manchete bombástica: O BEIJO NO ASFALTO. Para isso, convence o delegado Cunha a ajudá-lo na coação de testemunhas e na comprovação de fatos que pouco terão a ver com a realidade. O que importa é vender jornal.
E assim, os dias subsequentes se tornam um inferno na vida do pacato Arandir, um jovem bancário recém-casado com a sonhadora Selminha. Namorados desde a infância, os dois moram ainda com a irmã mais nova de Selminha, Dália, e recebem sempre a visita do pai das meninas, Aprígio. Levam uma vida morna e feliz de uma família de subúrbio carioca.
Mas a partir da reportagem de capa no Última Hora, a masculinidade de Arandir é posta a prova publicamente. Os fatos se confundem com uma ficção rocambolesca e Arandir passa a sofrer com a maledicência moral que vem de todos os lados – da imprensa, da polícia, da vizinhança, dos colegas de trabalho. Até chegar ao ponto da própria família passar a acreditar mais no jornal do que nele.
A Peça
A peça “O Beijo no Asfalto” foi escrita em 1960, por um autor maduro. Nelson Rodrigues tinha 47 anos e era seu 13° texto teatral. Além do mais, há cerca de uma década escrevia diariamente a coluna “A Vida Como Ela É” no jornal Última Hora, experiência enriquecedora na construção de tramas e personagens. Seu domínio era tanto que, segundo ele próprio, demorou apenas 21 dias para escrever a peça. Era uma encomenda feita pela atriz Fernanda Montenegro para sua companhia, a Sociedade Teatro dos Sete. A peça estreou no dia 07 de julho de 1961, com direção de Fernando Torres e cenários de Gianni Rato. No elenco, além de Fernanda, estavam Oswaldo Loureiro, Sérgio Britto, Mario Lago, Ítalo Rossi, Francisco Cuoco e Suely Franco, entre outros.
Desde então a peça teve inúmeras montagens e duas adaptações para o cinema. A primeira em 1963, com direção de Flávio Tambellini, tinha Reginaldo Farias, Norma Blum, Xandó Batista e Jorge Dória nos papeis principais. A segunda em 1981, com direção de Bruno Barreto, era estrelada por Ney Latorraca, Christiane Torloni, Tarcísio Meira, Daniel Filho e Lídia Brondi. O Beijo no Asfalto também foi adaptada para os quadrinhos, através do trabalho de Arnaldo Branco e Gabriel Góes.
Apesar dos percalços e de muita polêmica, a primeira montagem de O Beijo no Asfalto acabou se tornando o maior sucesso de Nelson Rodrigues até então. Ao todo foram sete meses em cartaz, com duas temporadas no Rio de Janeiro (Teatros Ginástico e Maison de France) e viagens pelo sul do país. O sucesso só não foi maior devido à renúncia de Jânio Quadros, quando a peça completava cerca de um mês e meio de temporada. Obviamente, o fato fez o Brasil parar por quase 10 dias, ficando à beira de uma guerra civil.
E não foi um sucesso tranquilo. Mesmo sem ter nenhum palavrão (aliás, nenhuma das peças de Nelson contém palavrões), muitos espectadores se sentiram ultrajados com a montagem. O que fez com que o próprio autor fosse para o saguão do Teatro Maison de France para interpelar os espectadores que saiam no meio do espetáculo. Quase sempre, convencendo-os a voltar.
A história de “O Beijo no Asfalto” é baseada em fatos reais ocorridos na época. O repórter Pereira Rego, do jornal O Globo, foi atropelado por um arrasta-sandália (espécie de ônibus antigo) e antes de morrer pediu um beijo para uma jovem que tentava socorrê-lo. A personagem do repórter policial Amado Ribeiro também existiu, e era colega de Nelson na redação do Última Hora. Aliás, Nelson gostava de colocar seus colegas como personagens de suas crônicas. Já tinha usado o próprio Amado Ribeiro como personagem no livro “Asfalto Selvagem ou Engraçadinha”.
Serviço: O Beijo no Asfalto – O Musical
Baseado na obra de Nelson Rodrigues
De 26 a 30 de setembro; Quarta a sábado, às 21h; Domingo, às 18h
Local: Teatro (capacidade: 620 lugares)
Duração: 150 minutos (com intervalo)
Não recomendado para menores de 14 anos
Ficha Técnica
Direção Geral: João Fonseca Trilha Original: Claudio Lins Direção Musical: Délia Fischer Elenco: Claudio Lins, Thainá Gallo, Luca de Castro, Ruben Gabira, Juliana Marins, Jorge Maya, Janaína Azevedo, Gabriel Stauffer, Marcéu Pierrotti, Pablo Áscoli, Beth Lamas, Ricardo Souzedo e Marina Mota. Figurinos: Claudio Tovar Cenário: Nello Marrese Iluminação: Luiz Paulo Nenén Direção de Movimento: Sueli Guerra Desenho de Som Original: Carlos Esteves Assistentes de Direção: Lucas Massano e Philipe Carneiro Assistente de Figurino: Thiago Detofol Assistente de Cenografia: Lorena Lima Programações Eletrônicas e Arranjos Musicais: Heberth Souza Pianista Regente e Assistente Direção Musical: Evelyne Garcia Arranjos Vocais: Augusto Ordine Preparação Vocal: Janaína Azevedo Idealização: Claudio Lins
Direção de Produção: Ana Beatriz Figueras
Produção Executiva: Alina Lyra
Produção: Sempre Mais Produções Artísticas
Produção Local São Paulo: Mesa 2 Produções Artísticas
Ingresso:
R$ 40,00 (inteira) l R$ 20,00 (aposentado, pessoa com mais de 60 anos, pessoa com deficiência, estudante e servidor de escola pública com comprovante) l R$ 12,00 (trabalhador do comércio de bens, serviços e turismo matriculados no Sesc e dependentes/Credencial Plena).
Bilheteria: Terça a sexta-feira, das 9h às 21h30; sábado, das 10h às 21h; domingo e feriado, das 10h às 18h30 (ingressos à venda em todas as unidades do Sesc).
Horário de funcionamento da Unidade:
Terça a sexta, das 7h às 21h30; sábado, das 9h às 21h; e domingo e feriado, das 9h às 18h30.
Central de Atendimento (Piso Superior – Torre A): Terça a sexta-feira, das 9h às 20h30; sábado, domingo e feriado, das 10h às 18h30.
Estacionamento: R$ 5,50 a primeira hora + R$ 2,00 a hora adicional (Credencial Plena: trabalhador no comércio de bens, serviços e turismo matriculado no Sesc e dependentes). R$ 12 a primeira hora + R$ 3,00 a hora adicional (outros). 200 vagas.
Sesc Vila Mariana Rua Pelotas, 141, São Paulo - SP
Informações: 5080-3000
sescsp.org.br
Facebook, Twitter e Instagram: /sescvilamariana
Site do projeto: http://www.obeijonoasfalto.com.br/
Mais informações: https://www.sescsp.org.br/programacao/167461_O+BEIJO+NO+ASFALTO+O+MUSICAL
Fonte:Sesc Vila Mariana